sexta-feira, 15 de abril de 2022

SIM, OS ANABATISTAS VENCERAM!

    Ontem (14/04/2022) compartilhei em meu Facebook, sem a menor pretensa de causar confusão, um post de um pastor querido que criticava “santo” Agostinho de Hipona por apoiar a perseguição de cristãos donatistas, um grupo anabatista liderado pelo pastor Donato de Casa Nigra (bispo de Numídia e Cartago) no século IV. Em concordância, o post sugeria que Agostinho se assemelhava a Paulo antes da sua conversão. O post foi excluído após surgirem pessoas, ditas cristãs, defendendo Agostinho e a perseguição aos cristãos “hereges” (donatistas foram anatemizados pela igreja romana, como quaisquer anabatistas o foram, mas o dito comentador os colocou em pé de igualdade com arianos, o que é um absurdo). Eu estou escrevendo esse texto pra dizer que como cristão batista, não estou do lado dos que aos olhos humanos foram vencedores na história, e que portanto contam a história com o intuito de denegrir a imagem que cristãos anabatistas tiveram, e o mesmo tentam fazer com cristãos batistas hoje. Um dos motivos os quais creio na herança espiritual que temos com anabatistas, é analisando as crenças e o testemunho que essas comunidades locais tiveram de Cristo e seu Evangelho. Nós batistas costumamos afirmar que o que faz uma igreja local ser batista são seus distintivos. Que motivo teria para não considerar os anabatistas evangélicos como pais espirituais? Separação entre a Igreja e o Estado, batismo consciente e por imersão, memorialismo, suficiência das Escrituras, liberdade religiosa e de consciência e autonomia da igreja local são fortes crenças em comum dos batistas e dos anabatistas evangélicos. Mas além disso, antes de serem os “vencedores nas guerras de espadas”, essas comunidades foram fortemente perseguidas pela igreja do Estado, que ora romana ora protestante, oprimia com apoio do Estado aqueles que discordavam de crenças e práticas como: batismo infantil, regeneração batismal, igreja estatal, sacramentalismo dentre outros.

A igreja estatal perseguia, matava, torturava, queimava ou escarnecia (com o tal “terceiro batismo”) os crentes em Cristo que não curvaram suas cabeças a Nabucodonosor de seus tempos (o deus-papal ou o deus-Estado). Entretanto, algo que me emociona e quebranta meu coração é saber que: pelo menos dois pastores anabatistas que conheço (Pr. Mennon Simons e Pr. Michael Sattler) ensinaram o verdadeiro amor de Cristo às suas igrejas: “Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;” Mateus 5:38,39

 

Michael Sattler foi um pastor anabatista suíço que pastoreou após a reforma protestante, provavelmente conheceu a espada [que pretendia matar aqueles que a Vida lhes conferiu eterno estado de imortalidade] de reformadores e de romanistas. Ele em 1527 escreve um documento chamado “Confissão de Fé de Schleitheim” escreve também “Carta à Igreja em Horb”. Sua finalidade com esses dois documentos foi instruir a igreja local quanto ao testemunho e a fé que demonstrariam entre eles e publicamente. Na Confissão ele escreve [1]:

VI. Nós estamos de acordo como segue sobre a espada.

[...]

Na perfeição de Cristo, no entanto, somente o banimento é usado para a advertência e a exclusão daquele que pecou, sem mortificar a carne simplesmente a advertência e a ordem de não pecar mais, [...]O magistrado do governo age segundo a carne, mas o cristão segundo o Espírito; suas casas e moradias permanecem neste mundo, mas as dos cristãos estão no céu; sua cidadania está no mundo, mas a cidadania dos cristãos está no céu; as armas de seus conflitos e guerra são carnais e contra a carne somente, mas as armas dos cristãos são espirituais, contra as fortificações do diabo. Os mundanos estão armados com aço e ferro, mas os cristãos estão armados com a armadura de Deus, com verdade, justiça, paz, fé, salvação e a Palavra de Deus. Resumindo, como a mente de Deus para conosco, assim será a mente dos membros do corpo de Cristo através dele em todas as coisas, para que não haja divisões no corpo que o possam destruir. Pois todo reino dividido contra si será destruído. Agora sendo que Cristo é tudo que foi escrito a seu respeito, seus membros precisam ser a mesma coisa, para que seu corpo possa permanecer inteiro e unido para assim progredir e ser edificado.”

O pastor Sattler foi martirizado pela igreja estatal, e entre as suas acusações de julgamento estava [2]:

“Nono, ele tem dito que se os turcos invadissem o nosso país, não se deve resisti-los, e se fosse certo ir à guerra, ele preferiria sair no campo [de batalha] contra os cristãos a lutar contra os turcos, e realmente é algo muito sério incentivar os maiores inimigos da nossa fé contra nós.”

Sim, ele escreveu e ensinou isso para os cristãos anabatistas que estavam sendo perseguidos, mortos, queimados, afogados e torturados pelo magistrado (igreja estatal). Com outras palavras: não guerreiem na guerra deles, nossas armas são outras e a nossa guerra também.

 

O pastor anabatista Mennon Simons ensinou algo parecido para as igrejas locais que pastoreou na Holanda, no noroeste da Alemanha (Reno) e na região de Holstein (Hamburgo). Em seus muitos escritos, ele diz coisas como:

“Quantos piedosos filhos de Deus, pelo testemunho de Deus e por razões de consciência, tem sido despojados de seus lares e posses e confiscadas suas propriedades para encher os insaciáveis cofres do Imperador; quantos tem sido traídos, lançados fora de cidades e países, atados a estaca e torturados, enviando os pobres órfãos desnudos pelas ruas. Alguns deles tem sido pendurados, outros torturados com crueldade desumana e depois enforcados. Alguns assados e queimados vivos. Alguns tem sido mortos pela espada e entregues aos abutres para serem devorados; outros foram lançados aos peixes; os lares de alguns destruídos, outros atirados em lamaçais e a outros se lhes cortaram os pés; tenho visto a um destes últimos e tenho conversado com ele. Outros vagam daqui para lá na miséria, sem lar, em aflição, por montanhas e desertos, em grutas e covas da terra como disse S.Paulo. Devem fugir de uma cidade para outra, de um país para outro, com sua esposa e filhos. São odiados, ultrajados, caluniados, e denegridos por todos os homens; denunciados pelos teólogos e magistrados; tem sido privados de seu alimento, atirados fora no cruél inverno e apontados com o dedo do escárnio. Qualquer um que colaborava na perseguição dos pobres e oprimidos cristãos, pensava que fazia um serviço à Deus, como disse Jesus. (João 16:2). (I:196a). Se um ladrão é levado ao patíbulo, um criminoso esquartejado no torno, ou qualquer outro malfeitor castigado com uma pena de morte inusitada, todo o mundo pergunta o que ele fez. A sentença não é dita enquanto os juízes não entenderem plenamente a causa e conhecerem a verdade no que se refere ao delito. Mas toda vez que um inocente e contrito cristão ao qual o Senhor na sua graça resgatou do caminho da perversidade e do pecado, e guiado pelos caminhos de paz, é acusado pelos sacerdotes e pregadores, e conduzidos diante dos tribunais, não o consideram digno de investigar detidamente que razões e Escrituras o impelem para não mais escutar a sacerdotes e pregadores ... Não desejam saber por que corrigiu a sua vida e recebeu o batismo de Cristo, ou qual pode ser o motivo pelo qual está disposto a sofrer e morrer pela sua fé. A única pergunta que lhe é feita é se foi batizado. Se a resposta for afirmativa, a sentença já está dada e tem que morrer.” [3]

 

“Ainda que infelizmente aqui devemos ser perseguidos, oprimidos, golpeados, saqueados, queimados, afogados, pelo Infernal Faraó e seus cruéis e desapiedados servos, no entanto, logo chegará o dia da nossa libertação, em que nos serão enxugadas todas as lágrimas e seremos adornados com vestimentas brancas da justiça, junto ao Cordeiro, e com Abraão, Isaque e Jacó nos sentaremos no reino de Deus e possuiremos a deliciosa e prazerosa terra do gozo eterno e imperecível. Louvai ao Senhor e levantai a cabeça, vós os que sofreis por amor a Jesus; está próximo o dia em que ouvireis: “Vinde, benditos” e vos regozijareis com Ele para sempre.” [4]

 

    Com essas citações, pretendo mostrar que o verdadeiro testemunho cristão, segundo o que Cristo deixou (“2 - Todavia, como cristãos, devemos estender a mão de ajuda aos órfãos, às viúvas, aos anciãos, aos enfermos e a outros necessitados, bem como a todos aqueles que forem vítimas de quaisquer injustiças e opressões; 3 - Isso faremos no espírito de amor, jamais apelando para quaisquer meios de violência ou discordantes das normas de vida expostas no Novo Testamento;” justificados por: 3. Ex 22.21,22; Sl 82.3,4; Ec 11.1 // 4. Is 1.16-20; Mq 6.8; Mt 5.9. [5]).

    O verdadeiro testemunho cristão jamais será a perseguição, e sim como respondemos à ela. Não estamos do lado “dos vencedores” das guerras de espada, estamos do lado de Cristo. Nele somos mais que vencedores.

 Miguel Augusto Gonçalves.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

[1] SATTLER, Michael. A Confissão de Fé de Schleitheim: VI. Nós estamos de acordo como segue sobre a espada. Literatura Monte Sião do Brasil, São Paulo 2012, p. 9,10 e 11.

[2] Ibid, p. 33.

[3] BENDER, H.S; HORSCH, John. Mennon Simons: sua vida e escritos. Disponível em http://www.elcristianismoprimitivo.com/, p 102.

[4] Ibid. p. 104.

[5] Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira (1986), Art, XVI - Ordem Social, pontos 2 e 3.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

O que significa “nascer da água”? – uma análise de João 3:5

"5. Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus."
(João 3:5, ACF)

 

Hoje perguntaram “o que significa “ÁGUA” em João 3:5?” e eu fiquei de escrever um texto pra responder essa pergunta. A verdade é que pra entendermos o que significa água, devemos fazer uma análise em formato de funil: MACRO>micro e então, especificamente à palavra “água”.

Primeiro devemos entender o contexto imediato de João 3:5. Nesse texto, Jesus estava conversando com Nicodemos, o v. 1 o descreve como “príncipe dos judeus”, (ἄρχων- archón que significa: 1. governador, comandante, chefe, líder - #G758 Strong). Essa informação é importante, pois implica que Nicodemos fosse um profundo conhecedor do Antigo Testamento (Tanahk). Quando Nicodemos procurou Jesus, ele provavelmente já sabia de quem era Jesus e o verso 2. Nos explica como: “Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus;” Rabi (gr. rhabbi) e Mestre (gr. didaskalos) não eram títulos que seriam dados pra qualquer um, Jesus não era um Sacerdote, ele não era um Rabino sacerdote e isso era conhecido, mas seu poder em face dos milagres eram tantos, que pra Nicodemos, era nítido que Jesus era o Rabi, o Mestre, alguém que merecia honra, afinal “ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele”. Esses dois pontos nos levam às seguintes conclusões:

1- Nicodemos era conhecedor do Antigo Testamento

2- Nicodemos reconheceu maestria e autoridade profética de Jesus. “Profeta” é um ofício cristológico/messiânico. Esse é o contexto de uma conversa escatológica, afinal, é diante do Messias (pessoa da consumação profética) que um mestre das Escrituras (Tanahk) estava diante.

Nicodemos como um bom fariseu não esperava que os sinais do Reino, que Jesus está demonstrando, falasse sobre um Reino vindouro. Pra ele, esperava-se uma renovação política e econômica, mas Jesus muito além do que isso, é Rei dos Reis (e não de um governo de um país, mas sim de Geração Eleita e Nação Santa). Jesus estava instaurando um Reino que não é desse mundo, a palavra “reino” do v.3 (βασιλεία, basileia) é uma palavra com mais de um significado, um deles é “do poder real de Jesus como o Messias triunfante” ou “do poder real e da dignidade conferida aos cristãos no reino do Messias”. Definitivamente, Jesus não estava falando de um Reino desse mundo, político ou econômico, Ele estava falando do seu bendito Reino, da sua salvação, daquilo que Ele prepara para os que O amam, pra aqueles que nasceram de novo. O Reino de justiça para injustos necessita de justiça vinda de quem é justo totalmente (2 Coríntios 5:21).

Entendido o contexto imediato (e levando em consideração que no contexto remoto, Jesus havia acabado de realizar seu primeiro milagre: transformação da água em vinho – João 2), entendemos que a conversa que Jesus estava tendo com Nicodemos no verso 5 faz alusão ao cumprimento de uma profecia do Antigo Testamento. Como disse D.A Carson[1] “...Jesus censura Nicodemos por não entender essas coisas em sua função como ‘mestre de Israel’ (v.10), um “catedrático” das Escrituras, e isso por sua vez sugere que nós devemos nos voltar para o que os cristãos chamam de Antigo Testamento para começar a discernir o que Jesus tinha em mente”, esse paralelo terminológico “água-espírito” é feito pela primeira vez pelo profeta Ezequiel, portanto, conclui-se que Jesus esteja fazendo uma alusão à profecia de Ezequiel 36:25-27:

“25. Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. 26. E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. 27. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis.” Ezequiel 36:25-27, ACF

Segundo Everett F. Harrison [2], essa passagem de Ezequiel diz sobre “...o perdão, a regeneração e o dom do Espírito de Deus.”, a tese do teólogo é que o profeta esteja traçando uma recordação acerca do ritual mosaico de Êxodo 30:17-21; Levítico 14:5-7,9; Números 19:9,17-19 sobre o perdão. É fato que essa imagem prefigurava o que Jesus Cristo fez por nós, a promessa de perdão/expiação é profecia messiânica, e textos do Novo Testamento nos fazem crer dessa forma: “16. Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, 17. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.” Colossenses 2:16,17 ACF; “Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção.” Hebreus 9:12 ACF; “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.” 1 João 1:7 ACF.

A ideia de “aspersão”, além de presente em Ezequiel, é também ensinada no Novo Testamento. No AT, a aspersão era de “água”, que segundo Craig Keener[3] “... Ezequiel usou a água como símbolo para a purificação do Espírito [...] de modo que, aqui, Jesus poderia estar comunicando o sentido de “convertido pelo Espírito” – um batismo espiritual de prosélitos”.  Embora eu discorde que a ideia de uma purificação da água seja a conversão em si (veremos mais pra frente que: justificação e regeneração são conceitos distintos), o fato de “água” simbolizar purificação, novamente nos leva a textos do Novo Testamento que colocam a causa da purificação no sangue de Cristo, confira um desses textos:

“Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?” Hebreus 9:14, ACF

O Apóstolo Paulo parece estar indicando um sinônimo da purificação dos pecados pelo sangue de Cristo (João 1:29, gr. “airo”- carregar, tirar) no conceito de justificação em Romanos, ao dizer “Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.” Romanos 5:9, ACF. Esse ensino coloca a causa da remissão dos pecados no sangue de Cristo, afinal “sem derramamento de sangue não há remissão.” Hb 9:22b. A sincronia entre os conceitos de “purificação” e “justificação” tem causa única: derramamento de sangue, do qual o de Cristo consumou.

Um outro texto do Novo Testamento que trata sobre a “aspersão” no sangue de Cristo é 1Pedro 1:2, confira:

“2. Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.” 1 Pedro 1:2, ACF

Nessa passagem, o Apóstolo diz sobre a eleição de Deus segundo a presciência (eleição essa, que tem como objeto Jesus, “E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,” Efésios 1:5). A preposição εἰς (eis), significa “1. “em” ou “para” (indicando o ponto alcançado ou inserido), de lugar, tempo.” (G1519 Strong’s), ou seja, a eleição em Cristo tem como objetivo “a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo”. Sobre a “aspersão no sangue de Jesus Cristo”, Ênio R. Mueller[4] comenta “Muito provavelmente o pano de fundo dessa figura encontra-se no ritual da aliança descrito em Ex 24:1-11 [...], aparecendo também em Hb 9:18-21. [...] A aspersão no sangue de Jesus Cristo sobre a pessoa indica, assim, que o valor salvífico no sacrifício na cruz é transferido e aplicado à mesma. E nisso está envolvido o perdão dos pecados e a consequente purificação do ser.”. João Calvino[5], reformador do século XVII, escreve sobre 1Pe 1:2, e diz “E ali parece haver uma alusão implícita ao antigo rito da aspersão usada sob a lei. Porque, como então não era suficiente que uma vítima fosse morta e o sangue fosse derramado, a não ser que a pessoa fosse aspergida, assim agora, o sangue de Cristo, que foi derramado, de nada nos valerá a não ser que as nossas consciências sejam por ele purificadas.”.

 

Conclusão: Jesus ao dizer que devemos nascer da “água”, ele estava dizendo sobre passarmos pela sua cruz, crendo que aquilo é por nós, para nos salvar, resgatar, restaurar, justificar e nos dar o direito legal de sermos apresentados diante de Deus como puros, salvos, amigos, e por Ele, ADOTADOS COMO FILHOS DE DEUS. Jesus não estava dizendo sobre a ordenança do batismo, e sim sobre o seu sangue, que nos purifica completamente, e de uma vez por todas.

 

“6. Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. 7. Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve.”

Salmos 51:6,7 ACF

 

Miguel Augusto Gonçalves, servo de Cristo e por Ele justificado.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

[1] CARSON, Donald Arthur. The Gospel acording to John. Publicado em português como “O comentário de João”; tradução Daniel de Oliveira & Vivian do Amaral Nunes. Shedd Publicações, São Paulo – 2007. P. 194 e 195.

[2] HARRISON, Everett F. Comentário Bíblico Moody: volume 1. Editora Batista Regular, São Paulo – 2017.

[3] KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Edições Vida Nova, São Paulo – 2017.

[4] MUELLER, Ênio R. 1 Pedro: introdução e comentário. Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão, São Paulo – 1991. P. 72 e 73.

[5] CALVIN, Jean. Epístolas gerais. Editora Fiel, São José dos Campos, SP – 2017. P. 140.

ERICKSON, Millard. Christian Theology. Publicado em português como “Teologia Sistemática”; tradução Robinson Malkomes, Valdemar Kroker, Tiago Abdalla Teixeira Neto. Edições Vida Nova, São Paulo – 2015.

DILLARD, Raymond B., LONGMAN, Tremper III. An introduction on the Old Testament. Publicado em português como “Introdução ao Antigo Testamento”; tradução Sueli da Silva Saraiva. Edições Vida Nova, São Paulo – 2006.

GRUDEM, Wayne A., Teologia Sistemática: atual e exaustiva, -- São Paulo, Editora Vida Nova, 1999.

 

 

**Todos os Textos Bíblicos foram extraídos da Bíblia Sagrada na tradução Almeida Corrigida e Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

5 dicas para entender a Bíblia!

Dificuldades pra interpretar textos bíblicos? Se ligue nas seguintes dicas:

1. Tenha certeza que você está usando uma boa tradução da Bíblia:

Existem boas e más traduções, e isso depende muito do método de tradução. Você pode estar usando uma tradução por equivalência dinâmica (NVI, NVT, KJA, NTLH, A Mensagem, A21, NAA) que traduz não o texto original mas a mensagem do texto; ou pode usar uma tradução por equivalência formal (ACF, KJF, ARA, ARC, LTT) que traduz literalmente o que o texto original está dizendo. Mas o que isso muda na hora de interpretar um texto? Vamos pra exemplos:

·         “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;” Romanos 3:23, ACF (formal)

·         “Pois todos pecaram e não alcançam o padrão da glória de Deus,” Romanos 3:23 NVT (dinâmica)

 

Perceba como ambas dizem basicamente a mesma coisa mas a ACF não está apresentando o significado prático dessa “destituição” de Deus que é fruto do pecado enquanto a NVT apresenta, que é, “não alcançar o padrão da glória de Deus”. Mas qual é melhor? Na minha opinião, a tradução formal se apresenta mais adequada pra interpretação de um texto, visto que toda tradução dinâmica depende da interpretação do tradutor (ou comissão de tradutores). Para você como intérprete, uma tradução que diz “o texto original diz isso” é mais adequada do que uma tradução que diz “o texto original quer dizer isso”. Há uma superioridade em traduções formais.

 

2.  Esteja preparado para fazer perguntas relevantes pro texto que você está analisando, seguem dicas de perguntas:

·         O que esse texto diz sobre o caráter de Deus? Seus atributos, suas obras, sua natureza são expressos de que forma nesse texto?

·         O que esse texto diz sobre a natureza humana? Os feitos e deveres do homem, tal qual sua pecaminosidade e natureza são expressos de que forma nesse texto?

·         O que eu pude descobrir de novo acerca desse texto, uma novidade, novo ensinamento de Jesus para mim?

·         O que desse texto está em falta em mim? O que na minha vida está de diferente do que esse texto diz que deve estar? (Sei que muitos podem discordar dessa pergunta, por não ser hermenêutica, mas é o que dará vida a sua interpretação, não serão letras mortas bem compreendidas).

·         Quem escreveu esse texto?

·         Para quem esse texto foi escrito?

·         Com qual finalidade esse texto foi escrito? Ex: repreensão, conforto, motivação, instrução, admoestação;

 

3.    Qual é o livro que esse texto se encontra? 

        E qual é o assunto tratado nesse livro, a partir da “família” que ele está inserido dentro da seleção de livros bíblicos? Não podemos nos esquecer que a Bíblia possui duas grandes divisões: Antigo Testamento e Novo Testamento. Mas essas divisões possuem divisões menores, são elas:

·         Antigo Testamento:

                                          i.    Pentateuco/Torah: de Gênesis a Deuteronômio (5 primeiros livros)

                                        ii.    Livros históricos: de Josué a Ester

                                       iii.    Livros poéticos e sapienciais: de Jó a Cantares

                                       iv.    Profetas maiores: de Isaías a Daniel

                                        v.    Profetas menores: de Oseias a Malaquias

 

·         Novo testamento:

                                             i.        Evangelhos: sinóticos de Mateus a Lucas + João

                                            ii.        Livro histórico: Atos dos Apóstolos

                                          iii.        Cartas paulinas: de Romanos a Filemon

                                          iv.        Cartas gerais: de Hebreus a Judas

                                            v.        Livro da Revelação: Apocalipse

 

·         Mas o que isso muda para interpretar o texto? Basicamente, cada livro é separado na Bíblia segundo os assuntos que ele trata, exemplo disso é uma carta paulina. O livro de Gálatas por exemplo foi escrito para a igreja na Galácia que estava passando por problemas, um deles é a tentativa de judaizar o cristianismo e trazer as obras da Lei (mosaica) como causa da justificação. Paulo então escreve a carta instruindo a Igreja de que a salvação é inteiramente pela graça mediante o sacrifício de Jesus na cruz, e que o meio de ser justificado é pela fé, e essa por sua vez causa a mortificação da carne e vivificação do Espírito em nós, que produz frutos. Saber o propósito do livro ajudará a interpretar o texto.

 

4.    Se esmere pra achar Jesus no texto. 

        A Bíblia inteira fala de Jesus, a Bíblia é um livro sobre Jesus e sua principal autoridade está no fato de ser inspirada por Deus, e por isso ser cristocêntrica visto que conhecer e exaltar a Jesus é o ápice do amor de Deus na sua revelação. Afinal Cristo é o suprassumo absoluto da revelação de Deus (Colossenses 1:15-20­). Quer exemplos de como a Bíblia é cristocêntrica?

·         NO princípio criou Deus os céus e a terra.” Gênesis 1:1

Deus: (אֱלֹהִים 'elohiym) (H430 Strong):

1. (literalmente) supremos.

2. (portanto, no sentido comum) deuses.

3. (especificamente, no plural, especialmente com o artigo) o Deus Supremo (ou seja, o todo supremo).

 

A palavra Elohim é o plural de Eloah (Deus), mas ela nesse contexto não diz sobre “deuses”, isso não faria sentido para o povo hebreu, a tradução e sentido correto seria Deus’s, um único Deus dotado de sua pluralidade de pessoas (uno em essência, e plural- no caso trino; em pessoalidade- conferir 1João 5:7). 

Mas é interessante analisarmos também a palvra “princípio” (בְּרֵאשִׁית,, bereshit) é o princípio de todas as coisas. Tanto é, que quando o Antigo Testamento foi traduzido para o grego na Septuaginta (LXX), bereshit foi traduzido por αρχη (arché). Em João 1:1 vemos:

1” NO princípio (arché) era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” João 1:1 ACF

No versículo 14 do mesmo capítulo, sabemos que João estava se referindo a pessoa de Jesus, que segundo Gênesis 1:1 estava desde o princípio, e em João 1:2, é Deus criador sobre todas as coisas. A Bíblia desde o seu primeiro verso está falando de Jesus.

Procurar Jesus em todo em qualquer texto é o que nos diferencia do diabo, que conhece a Bíblia (tanto que a citou pra Jesus em Lucas 4), e usa a Bíblia para nos acusar. A diferença é que o nosso Advogado é Jesus (1João 2:1). Encontrar Jesus no texto é encontrar a correta intepretação desse texto. Procure Jesus! Ele se revelará.

5.    Procure entender o contexto que o texto está inserido. 

        Muitos, principalmente os que não estão preocupados no crescimento em conhecimento bíblico mas tão somente em apontar erros, gostam de dizer “texto sem contexto é pretexto pra heresia”, o que é verdade. O problema é que param por aí. Dizer “coloque o texto em seu contexto” é muito vago, podemos estar falando de contexto: histórico, cultural, teológico (teologia bíblica), exegético, imediato, remoto, gramatical. Com “contexto”, quero tratar sobre dois tipos de contexto que você poderá analisar sem precisar consultar outros materiais (como comentários bíblicos) e sem precisar de conhecimento nas línguas originais bíblicas (grego e hebraico), são eles: o contexto imediato (analise da perícope) e o contexto remoto (do(s) capítulo(s) ou livro). Confira:

·         Contexto imediato: perícope é o nome dado ao conjunto de versículos seguintes que fazem sentido em si mesmos. Você já reparou quando estava lendo a Bíblia que algumas bíblias trazem “subtítulos” dentro dos capítulos ou até mesmo marcam a numeração de um versículo em negrito? Isso está indicando que ali começa uma nova perícope. Um exemplo de perícope que estive estudando recentemente para a exposição no grupo de jovens e adolescentes na igreja local é 2 Pedro 1:5-11. Se você ler essa passagem, perceberá que ela está tratando de um tema: a vida cristã em sua totalidade. Nós temos dos versículos 5 ao 7 instruções de conduta para a vida cristã. No versículo 8, o propósito primeiro da vida cristã: produzir e trabalhar no conhecimento (epignoses, discernimento) do Senhor Jesus. No verso 9 há uma admoestação, de que a cegueira espiritual está em não buscar produzir frutos e a causa disso é se esquecer do perdão de seus pecados. O verso 10 diz para nós cristãos buscarmos nisso (boas obras) fortificar a nossa eleição e vocação, a finalidade é o não tropeço. Por último, o versículo 11 diz sobre a finalidade maior desse amadurecimento e caminhada da vida cristã, e esse por sua vez não é a salvação e sim uma “entrada ampla” no reino de Deus, isto é, o galardão. Essa análise de 2Pe 1:5-11 é se atentar para o contexto imediato do texto.

·         Contexto remoto: este por sua vez, diz respeito ao contexto que a perícope está inserida. Uma perícope, geralmente, está dentro de um capítulo. O que diz esse capítulo? E a perícope anterior? E a próxima perícope? E vou além, o que disse o capítulo anterior e o próximo capítulo? Buscar entender isso, te levará à uma compreensão holística do texto, não somente preso a um ou dois versos, mas você terá a própria Bíblia se explicando. Buscar entender o contexto remoto é, inconscientemente, fazer a pergunta “o que os primeiros leitores desse texto entenderam?”. Isso é relevante para a interpretação de um texto.

 

 

Espero ter ajudado, que o Espírito Santo que inspirou e preservou a Palavra de Deus possa te auxiliar nessa maravilhosa tarefa de entender a Bíblia. Não se esqueça jamais:

1:20 Sabendo primeiramente isto: Que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.

1:21 Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.

 (2 Pedro 1:20-21, ACF)

 

 

Miguel Augusto Gonçalves.

terça-feira, 3 de agosto de 2021

MEMORIAL? SIM, UM MEMORIAL!: uma análise de 1Coríntios 11:24,25.

“Quando nós comemoramos a Ceia do Senhor, nós estamos dando testemunho de que ele é o Maná Divino, o pão que desceu do céu. Nisso nós cremos, nele nós confiamos!” Pr. João Filson Soren[1]

Recentemente, tem-se enfatizado as diversas posições acerca da Ceia do Senhor (e das Ordenanças – “sacramentos”). Posições como a transubstanciação, união sacramental, presença real, presença espiritual, consubstanciação e memorialismo. Dentre tais, a posição que entendo ser a bíblica, e a maioria esmagadora dos batistas assim também entende, é o memorialismo, ou Ordenança Memorial, onde a Ceia do Senhor proclama o sacrifício de Cristo, o anuncia até sua volta mas não possui qualquer poder, presença (nem real nem espiritual) de Cristo, assim como também não transfere graça, salvação ou santificação alguma para o crente. Veja o que diz a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira (CBB) de 1986 sobre a Ceia do Senhor:

“IX - O Batismo e a Ceia do Senhor                          

O batismo e a ceia do Senhor são as duas ordenanças da igreja estabelecidas pelo próprio Jesus Cristo, sendo ambas de natureza simbólica.

[...]

4 -  A ceia do Senhor é uma cerimônia da Igreja reunida, comemorativa e proclamadora da morte do Senhor Jesus Cristo, simbolizada por meio dos elementos utilizados: o pão e o vinho;

5 - Nesse memorial, o pão representa Seu corpo dado por nós no Calvário e o vinho simboliza o Seu sangue derramado;

6 - A ceia do Senhor deve ser celebrada pelas Igrejas até a volta de Cristo e sua celebração pressupõe o batismo bíblico e o cuidadoso exame íntimo dos participantes.

1. Mt 3.5,6,13-17; Jo 3.22,23; 4.1,2; 1Co 11.20,23-30

2. At 2.41,42; 8.12,36-39; 10.47,48

3. Rm 6.3-5; Gl 3.27; Cl 2.12

4. Mt 28.19; At 2.38,41,42; 10.48

5 e 6. Mt 26.26-29; 1Co 10.16,17-21; 11.23-29

7. Mt 26.29; 1Co 11.26-28; At 2.42; 20.4-8”

 

Um ataque comumente feito por sacramentalistas à posição batista, é que um dos principais (mas não único) textos que nós utilizamos para apoiar o memorialismo, 1 Coríntios 11, não se trate de fato de uma posição memorial, e que o texto é mal interpretado quando lido de tal forma. Faremos uma análise a seguir:

“24. E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. 25. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.” 1 Coríntios 11:24,25 – ACF

 “...MEMÓRIA” - ΑΝΑΜΝΗΣΙΝ (ANAMNĒSIS), uma análise:

STRONG

Ø  G364 Strong’s

The KJV translates Strong's G364 in the following manner: remembrance (3x), remembrance again (1x).

 

Strong’s Definitions:

ἀνάμνησις (anámnēsis), an-am'-nay-sis; from G363; recollection:—remembrance (again).

 

STRONGS NT 364: ἀνάμνησις

ἀνάμνησις, -εως, ἡ, (ἀναμιμνήσκω), a remembering, recollection: εἰς τ. ἐμήν ἀνάμνησιν to call me (affectionately) to remembrance, Luke 22:19 [WH reject the passage]; 1 Corinthians 11:24f, ἐν αὐταῖς (namely, θυσίαις) ἀνάμνησις ἁμαρτιῶν in offering sacrifices there is a remembrance of sins, i. e. the memory of sins committed is revived by the sacrifices, Hebrews 10:3. In Greek writings from Plato down.

 

Ø  VINE’S EXPOSITORY DICIONARY (Dicionário Vine)

Remember, Remembrance, Reminded:

 

"a remembrance" (ana, "up," or "again," and A, No. 1), is used

(a) in Christ's command in the institution of the Lord's Supper, Luk 22:19; 1Cr 11:24, 25, not "in memory of" but in an affectionate calling of the Person Himself to mind;

 

(b) of the "remembrance" of sins, Hbr 10:3, RV, "a remembrance" (AV, "a remembrance again;" but the prefix ana does not here signify "again"); what is indicated, in regard to the sacrifices under the Law; is not simply an external bringing to "remembrance," but an awakening of mind. In the Sept., Lev 24:7; Num 10:10; Psa 38:1; 70:1, Titles

 

MEUS COMENTÁRIOS:

Como vistos em um léxico e em um dicionário teológico, o termo anamnesis que foi traduzido como “memória” tem um significado justamente de relembrar algo, uma re-lembrança. O que é interessante, é que o texto não para por aí. Nos dois versículos citados (v. 24 e 25),a expressão anamnesis aparece duas vezes:

1)    V. 24 “...fazei isto em memória de mim”: o apóstolo Paulo diz que tal instrução foi recebido tal ensino do próprio Senhor Jesus (v. 23), assim como a descrição lucana (Lc 22:19), a instrução aponta para um ato memorial. Ou seja, Jesus diz que deve-se realizar a Ceia como um ato “em memória” dEle.  Alguns estudiosos como Craig Keener argumentam que “o sentido aqui é do Antigo Testamento, em que a Páscoa comemorava os atos de redenção divina da história de Israel (p. ex., Êx 12.12; 13.3; Dt 16.2,3)” [2]  o que tal argumento me parece razoável. Disto tiraríamos conclusões tanto da Teologia Bíblica: que a Nova Aliança é superior à Antiga; que o NT interpreta tipologias do AT e também da Teologia Sistemática, que afirmaria o memorialismo, ato memorial, da ordenança da Ceia do Senhor. Ainda sobre esse versículo, poderíamos citar o Comentário Bíblico Moody[3] que comenta sobre a indicação do que está em memória, no caso o Corpo e o Cálice.

“A palavra é tem o sentido comum de “representa” (cf. v. 7; Jo 8.12; 10.9; 1Co 10.4) [...] Em memória envolve mais do que uma simples lembrança; a palavra sugere uma convocação ativa da mente...”

2)    V. 25 “...fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.”: já nesse versículo, há uma reafirmação interessante. No primeiro verso, o apóstolo instrui a Igreja a comer o pão em ato memorial, já no segundo, descreve a situação onde Jesus toma o cálice e tece um comentário sobre alianças, e que nessa aliança, o cálice que representa o sangue é feita então como a Nova Aliança, um Novo Testamento. E que por fim, sempre que bebermos, devemos fazer “em memória de mim”. Tal expressão, em tal contexto, somente reforça a ideia anteriormente apresentada: de que a ceia se trata de um ato puramente memorial, não havendo então indícios bíblicos para crer que Jesus se faz espiritualmente nos elementos, nem fisicamente, nem tampouco se transforma.

Como disse Fernando Vítolo Gonçalves[4]:

“A representação da Nova Aliança no sangue de Jesus, da salvação dada ao seu povo. O pão sem fermento da páscoa era normalmente interpretado de modo figurado como “o pão da aflição que os nossos ancestrais comeram” na época de Moisés. Jesus havia aplicado esse pão a si mesmo: Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. (v. 26).”

Com esse texto não quero “provar o memorialismo”, somente derrubar um espantalho criado por muitos sacramentalistas que invalidam o argumento, ou apelando para a interpretação do texto bíblico, ou para a ausência de “outras evidências” (o que tal argumento mesmo que fosse verdadeiro, não é, não faria menor diferença visto que os vs. 24,25 são claros em expressar tal fato acerca da Ceia, assim como suficientes e que se reafirmam entre si). A perícope em questão não somente prova o caráter simbólico da Ceia do Senhor, mas como instrutivo à Igreja e prova sua característica anunciadora da Morte Vicária de Cristo Jesus na Cruz do Calvário, morte essa que nos traz a Vida e Vida em Abundância.

 

Miguel Augusto Gonçalves.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E LINKS

[1] SOREN, João Filson. Em Memória de Mim: Meditações sobre a Ceia do Senhor. Pag. 96. Editora Convicção, Rio de Janeiro, 2008.

[2] KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento, tradução de José Gabriel Said, Thomas Neufeld de Lima. – São Paulo, Vida Nova, 2017.

[3] HARRISOM, Everett F. Comentário Bíblico Moody: volume 2 – São Paulo, Editora Batista Regular do Brasil, 2017.

[4] GONZALIS, Fernando Vítolo. Há elementos de graça na ceia do Senhor?. Revista Teológica, Faculdade Teológica Batista de São Paulo, n. 13, p. 58, ago. 2019.

Disponível em: <http://ead.teologica.net/revista/index.php/teologicaonline/article/view/184>. Acesso em: 04 ago. 2021.

THIESSEN, Henry Clarence. Palestras Introdutórias a Teologia Sistemática. Editora Batista Regular do Brasil, São Paulo, 2010.

http://www.convencaobatista.com.br/siteNovo/pagina.php?MEN_ID=22

https://www.blueletterbible.org/lexicon/g364/kjv/tr/0-1/

https://www.bibliaonline.com.br/acf+receptus/1co/11/23-34+

domingo, 16 de maio de 2021

Entendendo o Sentido do Perdão em Cristo.

 

O SENTIDO DO PERDÃO

 

 

Geralmente quando se diz que “Jesus morreu por você” ou “Jesus pagou o preço dos seus pecados” em um momento de evangelismo, é comum que o receptor da mensagem pergunte “morreu pelo que? Pagou como?”. Esse texto/estudo tem por finalidade esclarecer pontos sobre o PERDÃO DE DEUS, sua manifestação de amor e graça em Cristo Jesus e o acesso ao perdão. Esse texto servirá tanto para te tirar possíveis dúvidas acerca do Evangelho quanto te apresentar princípios para o Evangelismo. Portanto, recomenda-se que consulte, leia e entenda todas as referências bíblicas citadas no texto:

·         Dica: inicie lendo Romanos 3:10-19 (Almeida Corrigida e Fiel)

Nesse texto, entende-se a profunda culpa que temos. O pecado herdado de Adão não somente nos condena mas nos faz inimigos de Deus e de nós mesmos. Em crises de fé, muitos dizem “Deus é o meu inimigo”, errado: Lendo Rm. 3:10-19 me parece que nós somos os inimigos de nós mesmos (e essa situação, ferindo e indo contra a Santidade de Deus, nos coloca em situação de inimizade com o Criador, mesmo que Seu Amor continue soberano, pleno e incondicional). Incapazes do bem, incapazes de nos salvarmos, incapazes de nos livrarmos de nós mesmos. Presos ao “eu”, que desastre...

·        Começando pelo o que antecede o perdão: a culpa

o   Gênesis 1:26; 2:16-17: Deus nos cria em perfeição (haja vista v. 31 “e eis que era muito bom” ACF). Essa perfeição nos garantia a plena inocência e acesso a Deus, éramos livremente amigos de Deus.

o   “Adão falha no seu teste e descumpre o pacto de obras (Os 6:7) e devido a isso todos nós estamos debaixo da maldição desse pacto e herdamos uma natureza corrompida (Rm 5.12), pois como Adão, escolhemos pecar!!!” (Pr. Rui Dias) a partir desse momento, todos nós pecamos e somos culpados. Muitos se perguntam “por que eu devo pagar pelo erro de Adão?” Ora, nós não pagamos pelos pecados de ninguém se não dos nossos mesmos. Em Adão nós estávamos representados, nós pecamos assim como Adão pecou, afinal dizer sobre o pecado de Adão é só atribuir a origem do pecado lá no Éden, mas o que importa é o meu e o seu pecado, o de hoje, esse nos condena. Deus não precisa nos condenar, nós nos condenamos por nós mesmos pelo nosso pecado (Deus nos julga com reta justiça, que sem Cristo nos condena. Conferir Salmos 9:8, 33:5; Isaías 51:4-6; Romanos 3:21-26). Ninguém será enviado ao inferno somente por fazer o mal, todos nós fazemos o mal e pecamos e não será fazer o bem que recompensará e limpará a profunda mancha. As pessoas são condenadas ao inferno por conta do perdão que elas recusaram (cf. Efésios 2:8-10). (Lembrar Romanos 3 que foi lido)

o   Romanos 3:23; 6:23; Gálatas 3:10: A desobediência nos trouxe a culpa e nos deixou debaixo da Ira e da Condenação de Deus. Essa ira e condenação não são atributos de Deus, a ira não faz parte de Deus. Deus é justo, e sua justiça santa e perfeita é manifestada em ira em face do tamanho pecado da humanidade (João 3:36). Nossas transgressões a santidade do Deus Vivo são tão grandes, que em face do pecado, sua justiça se manifestará em ira caso nada seja feito. O Bondoso e Benevolente Deus já providenciou uma saída, que é Cristo Jesus, seu único Filho:

“16. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. 17. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” João 3:16,17

·         Jesus é a fonte de todo perdão:

o   Gênesis 3:21: a expiação necessita da morte de um inocente; Levítico 1:4,5: (hb. Kaphar, cobrir) é empregado para a “expiação de pecados em um inocente. Nesses textos vemos que desde o Éden, para que o pecado do homem fosse coberto, um inocente deveria morrer. A Expiação (que é quando nossa dívida é paga, remida e os nossos pecados são cobertos) é efetivada pelo derramamento de sangue inocente, pelo holocausto de quem é puro pela impureza do que desfrutará da paz (essa figura apontará pra Cristo assim como toda a Lei – Conferir Colossenses 2:17)

o   Isaías 53:12; João 1:29; Hebreus 10:10: Cristo é o Cordeiro de Deus!!! João afirmou categoricamente que Jesus Cristo é o “...Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29b). Traduções como a ACF, ARA, NVI e NAA traduzem o termo grego αιρω (aíro̱) como “tirar”, mas outras traduções como a King James Fiel 1611 traduzem o mesmo verbo como “carregar”. De fato, o significado dessa palavra no grego pode ser tirar e carregar, mas seu significado teológico (visto que está se tratando de um Cordeiro que expiará a culpa do pecado do mundo) pode também significar “carregar” no sentido de "trazer sobre si". Em todos os casos, na Cruz, Jesus Cristo levou sobre si a ira de Deus que estava sobre mim e sobre você para que a nossa culpa fosse perdoada e a plena justiça de Deus fosse consumada em Cristo. Jesus recebeu a pena em nosso lugar, ele foi nosso substituto e tomou sobre si nossas dores. Por isso, todo aquele que O recebe pode ter livre acesso ao Pai e acima de tudo chamá-lO de Pai.


“...para a realização da plena expiação, ele tornou a sua alma asham, isto é “uma vítima propiciatória pelo pecado” (como declara o profeta em Isaías 53.5, 10), sobre a qual a culpa e o castigo sendo, desta forma, colocados, deixam de ser imputados sobre nós.” – Norman Geisler

“Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.” 2 Coríntios 5:21 ACF

 

·         NÓS RECEBEMOS O PERDÃO PELA FÉ:

o   Não mero conhecimento, não mero conhecimento e concordância MAS SIM: dependência total em Jesus como Salvador e Senhor. Ter fé em Jesus não é como dizer “Ele é meu mano” nem falar que Ele te sustenta, ou concordar que Ele o ama. Ter fé (e fé que salva) em Jesus significa entender quem nós somos (pecadores amados por Deus, que estão diante da cruz com a oportunidade de pela fé serem perdoados, justificados, feitos Filhos de Deus, herdeiros do Céus e passar do título de “morador do mundo” para “Peregrino indo ao Céu”). Ter fé em Jesus é entender sua culpa e aceitar o perdão gratuito, o favor imerecido. – ver João 1:12; Romanos 1:16,17; 3:23-26

o   2 Coríntios 7:9-10: o arrependimento deve vir junto com a fé. Quantos dizem ser “cristãos” mas não são diferentes de quando não se diziam crentes? Não se esqueça que Cristo disse “...Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” Lucas 9:23.

o   Deuteronômio 30:19-20: nós temos a responsabilidade de aceitar ou rejeitar o dom da salvação [obs: só a partir desse momento, que o Espírito trabalhou no coração do homem que passa-se a ter o livre-arbítrio, antes estávamos mortos. Conferir Ef. 2:1]. Nós temos a plena liberdade (outorgada pelo próprio Deus) para livremente aceitarmos em nossos corações o dom da fé em Cristo Jesus, ou rejeitar. O Espírito Santo, Deus Consolador que convence o homem de seu pecado, capacitando o morto a escolher a vida de Cristo Jesus ou permanecer na morte do pecado (ver João 16:8).

 

A chamada:

“E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba.” João 7:37 ACF

Se você tem sede do perdão, vá a fonte de águas vivas que é Jesus e o receba como Salvador e Senhor de sua vida por meio da fé.

 

Miguel Augusto Gonçalves.

 

BIBLIOGRAFIA

GEISLER, Norman, Teologia Sistemática vol.II, Ed. CPAD, Rio de Janeiro.

DIAS, Rui A., Escola de Evangelismo.

STOTT, John, A Cruz de Cristo, tradução João Batista – São Paulo, Editora Vida, 2006.

GRUDEM, Wayne A., Teologia Sistemática: atual e exaustiva, -- São Paulo, Editora Vida Nova, 1999.

HOLMAN, Study Bible, BV Books, 2012.

**Todos os Textos Bíblicos foram extraídos da Bíblia Sagrada na tradução Almeida Corrigida e Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

SIM, OS ANABATISTAS VENCERAM!

     Ontem (14/04/2022) compartilhei em meu Facebook, sem a menor pretensa de causar confusão, um post de um pastor querido que criticava “s...